Sou filho único de um casamento fracassado, não tenho lembrança dos meus pais juntos.
Minha mãe me sustentou, me criou, sozinha, meu pai era inconsequente.
Fui criado na família da minha mãe, que tem um passado complicado, imigraram de um país em guerra e portanto não tem raízes, fora diversos problemas estruturais.
Nem sei direito o que é família, a minha era tão bagunçada que não tenho essa figura bem definida na minha cabeça, o que é família.
Ressentimento e amargura eram muito presentes, e eu sentia isso.
Nunca houveram mais tratos, nunca faltou nada, faltou sim orientação, que foi zero, zero a esquerda.
Toda vez que fazia algo “errado”, coisa de criança, era comparado com meu pai.
Minha mãe é muito revoltada e frustrada, minha avó que cuidava de mim era mais ainda, meu avô era frio e distante.
Eu me sentia péssimo, mesmo criança, pensei em me matar varias vezes.
Hoje com cabeça de adulto, fico com raiva, muita raiva, já falei para eles que nunca quero ter filhos para não perpetuar a semente dessa família de m….. nesse mundo.
Não tenho mais avós, nem pai, só me resta minha mãe mesmo, com ela me entendo até certo ponto, ela também se deu conta dos absurdos, em parte.
Para piorar estudei em um colégio católico, onde haviam gravíssimos problemas de disciplina, inclusive problemas muito sérios e graves.
Na época não havia nome, hoje tem, bullying, que eu sofri muito, muito mesmo, só não foi pior por que eu sempre fui grande, apesar de gordo.
Tive pouquíssimos amigos, a maioria me desprezava, a meninas ainda mais.
Minha vida escolar foi ruim, fui muito mal na escola, o que me fazia ser muito criticado em casa.
Minha vida profissional também é muito atribulada, fiz uma faculdade, desisti de trabalhar no ramo, detestei, me arrependi amargamente, não tinha como largar, terminei e fiz outra, trabalho mas não é um bom ramo, nem um emprego bom.
Falo duas línguas, tenho muitos cursos, mas não consigo progredir sou extremamente tímido, não consigo me relacionar bem, nem no trabalho, nem na vida.
Sempre comi muito, comecei a ter problemas de saúde por conta do peso, melhorei muito, mas ainda não estou totalmente bem.
Apenas uma vez tive namorada há muitos anos, e foi muito conturbado, nem tanto por causa dela, mas sim da família adotiva dela, que era ainda mais conturbada que a minha.
Tinha pena dela, ela me achava afortunado, mas mostrei que não era assim.
Não foi uma experiência feliz.
Depois nunca mais consegui me aproximar de ninguém, não consigo e nem tinha interesse.
Fiquei só, tinha raiva das pessoas a ponto de que quando sabia de alguma desgraça, pela televisão ou internet, ou mesmo com pessoas mais próximas, pensava, “bem feito”, são todos uns lixos… Ninguém merece consideração.
Meus primos são extremamente arrogantes e interesseiros, sempre me desprezaram, eu por minha vez sempre mostrei antipatia, desprezo também, por mim podem morrer.
A solidão não me importava, no trabalho só falo o mínimo até hoje e sempre que alguém tentava se aproximar eu me fechava ou afastava de maneira ríspida.
Algumas vezes tentei me aproximar de pessoas as quais tinha mais afinidade, mas senti-me desprezado, olhado de lado e como várias vezes, vi o flashback do bullying na escola, de tudo o que falavam em casa, jogavam na minha cara, da comparação com meus primos arrogantes cujos país não tinham se separado, pelo menos tinham pai, a comparação com meu pai, as broncas raivosas que eu levei, onde eu via a raiva nos olhos da minha mãe e da minha avó, a ponto de ficar com medo. Eu era criança, não tinha culpa do que aconteceu no passado deles.
Hoje quem tem raiva sou eu.
A distância e a minha frieza para com os outros já chegaram a fazer com que me perguntassem: “por que você é assim?”
Eu não respondi, mas pensei: você não vai querer saber, sua vidinha cor de rosa não permite que você saiba.
Vou poucas vezes na igreja para rezar, sozinho, em silêncio, vou na igreja católica, mas não sou católico, não sou nada, não vou na missa, apenas rezo um pouco e vou embora.
Não confio nesta “santa” igreja por causa da minha experiência no colégio, que foi péssima, uma vez falei isso e uma mulher falou: “minha filha estuda lá e adora.” Eu respondi: “é por que não era na minha época, que bom que a sua filha não provou da profunda gentileza das pessoas que frequentavam aquele local, pois você ia lamentar, além do mais, cada um fala por si mesmo.”
Fui na academia e melhorei bastante, não tudo o que queria.
Depois de muito tempo só, comecei a me sentir estranho, olhei para o lado e só vi vazio, parecia que eu estava só, como nunca antes, o que eu tinha não me satisfazia mais, as coisas materias, não vão lhe amparar, lhe dar bom dia, ou chamar o socorro ou te levar ao hospital, também não vão segurar sua mão no leito de hospital.
Nunca pensei que fosse me sentir assim, sempre me senti desajustado e perdido, não me encaixo em nada, nem ninguém, sou desajeitado e indesejado, vejo as outras pessoas, mesmo na rua, sem conhecer, e enxergo elas como hostis.
Eu não me acho intelectualmente incapaz, mas por conta da total falta de articulação, falta de base ou orientação, penso ser incapaz de estabelecer relações melhores com outras pessoas, isso quando não me acho repulsivo e “nojento”, como um menina me disse no santo colégio.
Depois de muitos anos trabalhando, em situações adversas, ganhei alguma resiliência.
Hoje já não sou tão cordeiro quanto antes, mas a raiva ainda está lá, e me seguro muito, muito mesmo, para não soltar nada, por medo de perder o controle e fazer uma besteira como por Deus e por muito pouco não fiz uma vez.
Apesar de tudo, eu sempre tive comigo, algo inato, que sempre carreguei comigo e não sei de onde veio, sempre quiz ter uma companheira de fato, alguém que gostasse de mim, eu queria compartilhar minha vida com ela (não que minha vida seja maravilhosa), dar para ela, tudo de bom e verdadeiro que eu carrego, todo o meu carinho, dedicação, respeito, companheirismo, e até amor, (apesar de que não acreditar que este último realmente exista), enfim, tudo o que não tive em casa, que minha mãe não teve, eu não tive.
Sempre carreguei isso, apesar de negar, sempre existiu, sobreviveu, quando ouço mulheres falando que “homens são todos iguais…”, até compreendo a indignação, mas não concordo, pois eu não sou assim, não penso assim.
Se eu tiver uma companheira, se eu escolhi aquela mulher e ela me aceitou, vou fazer se tudo para dar certo, por que se não, do que adianta.
Até penso que a família dela poderia me aceitar, sou honesto, trabalhador, tenho estudos, nunca me meti em problemas, não fumo, jamais usei drogas (nunca quiz), não bebo (extremamente difícil) e se sobretudo verem que gosto de verdade da filha daquela família, poderia ser aceito por eles.
Quero ir embora do país, talvez encontre alguém em outro país, ou aqui mesmo, não sei.
Neste dia dos pais, pela primeira vez, pensei, que se uma dia eu tivesse um filho, ou uma filha, jamais faria com eles o que foi feito comigo, por que faria isso?
Não consigo entender, tampouco faria com minha esposa, não acho certo, quero ser fiel, por mais louco que os outros possam pensar.
Eu sei que casamentos, relacionamentos podem dar errado, muitas coisas podem acontecer, mas pelo menos uma vez na vida eu queria andar do outro lado da rua.
Quando conto para outros, os quais tenho alguma intimidade, acham que eu estou exagerando, as vezes riem no melhor estilo “sabe de nada inocente…”.
Ou dizem “você é uma peça rara…”.
Também acho que estou me enganando, ou me iludindo, mas ainda tenho vivo isso dentro de mim, pois se sobreviveu até hoje, não vai agora que vai morrer.
Ainda acredito e hoje busco, não sei no que vai dar, mas acredito.
Na casa dos 40 anos, não sei se ainda tenho tempo, acho-me velho.
Não tenho mais medo, quero sim dividir tudo de bom e verdadeiro que tenho com uma mulher, que goste de mim, só isso.
Nunca tive inveja dos outros, mas vezes é inevitável, quando vejo pessoas felizes por aí.
Ao invés de dar cabo, quero doar minha vida a alguém, fazer alguém feliz, como eu nunca experimentei antes, mas se conseguir, eu estarei muito feliz e acharei que consegui fazer alguma justiça no mundo e estarei feliz enfim.
Jamais cometeria os mesmos erros
Um servidor de apoio emocional e saúde mental. Desabafos anônimos, troca de experiências e apoio psicológico.
Pessoas depressivas, ansiosas, tdah, bipolares, borderline, autistas, dependentes químicas, anoréxicas, bulemicas, esquizofrênicas e afins.
Então, estive lendo seu desabafo e vi muita revolta, mas acredito que seja necessário passarmos por isso e sei o quanto és forte, mas não vejo como vantagem carregar tanta mágoa, pois a caminhada se torna muito penosa, e por conta disso te aconselho a buscar ajuda psicológica para que esses pesos emocionais diminuam, e não falo isso por conta que acho que você tenha uma doença mental; não, pelo contrário, se todo ser humano soubesse faria terapia. É só um conselho. Não fique alimentando isso, vai te fazer mal, pode acreditar. Se alimentamos coisas ruins mas viram, então faz um esforço e tenta amenizar toda essa carga ok?! Sei que você consegue, confio em você. Um beijo grande e que sua vida seja incrível.
Que triste. Sei bem como é. Pra piorar eu sou autista, o meu pai, nunca gostou de mim, sempre me renegou, minha mãe foi pelo mesmo caminho que ele, ela se tornou uma pessoa ruim, eu não quero ter filhos, nem tenho esse desejo. Estou praticamente morto pro mundo, mas sei que sou importante só pra mim.